quarta-feira, 4 de julho de 2012

ENTREI EM ESTADO FUNDAMENTAL

As férias mal começaram e terminei ontem o primeiro livro dessa temporada, duas madrugadas foram necessárias para que as desventuras do protagonista de Adriana Brunstein chegassem ao fim (mas será que tudo acaba na página final mesmo?) Basicamente a trama gira em torno de um personagem masculino, o cara deve ter uns 19, 21 anos, nem mais, nem menos, o nome não importa, o que importa de fato é que sua vida é um caos completo, sua família bizarra e a solidão sua melhor amiga. Permeia pelo romance uma personagem chamada Marla, figura misteriosa, branca, com uma tatuagem de cobra no pescoço, uma garota que anda às voltas com a morte e pela qual, o protagonista desenvolve uma estranha empatia.
O romance é desenvolvido principalmente através construção das personagens, os capítulos curtos e ágeis passeiam de um presente sem expectativas até um estado de realidade distorcida pela mente do protagonista, a ação na maioria das vezes é abrupta ao mesmo tempo que abre um leque de subjetividades, um leitor mais atento aos detalhes certamente vai se deliciar com o afiado humor negro da narrativa, não é um livro pra se ler uma única vez e esquecer na prateleira. Estado Fundamental é poesia pura, das boas, Adriana Brunstein nesse livro atinge um retrato cru, porém de uma narrativa sofisticada e visceral.

trecho do livro:

“Minha ineditável garota não sabia andar de bicicleta. Nasceu prematuramente porque não se importava com o tempo. Tinha algumas alegrias que foram curadas na adolescência e sua palidez deixou de ser assunto familiar numa festa de natal em que o peru queimou. Engasgou com seu primeiro baseado e abortou seu único filho. Todo resto, assim como ela, se afogou nos sujos pântanos que se formaram sob os velhos tacos.”



Estado Fundamental, Adriana Brunstein, cap 27, pág 87

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