sexta-feira, 14 de outubro de 2011

GOLDEN BOYS


Era como se um misto de melancolia e despudor atingissem meus ossos, todas as vértebras amoleceram e começaram a derreter como a cera de uma vela.
A rua Augusta toda coberta por uma neblina densa, a bruma revelando e escondendo faces entorpecidas...anestesiadas, salpicadas de glitter e pelas réstias dos faróis.
Os automóveis diminuíam a velocidade, estacionando nas coxas e abandonando-se nos flancos alugados.
No delta dos seios alinhados por cirurgia.
Na curva dos cílios alongados, nos suspiros silenciosos das sereias urbanas.
Golden Boys, vampiros noturnos presos na eternidade juvenil de seus corpos, andando em grupo pelas calçadas como cães, desbravando o escuro e descobrindo o dínamo da noite e seus segredos. Entrando em bares aleatórios apenas para usar os mictórios e cheirar todo o cartão de crédito em notas de cinco.
Golden Boys, trajando calças apertadas, jaquetas de couro e camisetas de rock. O brilho do ouro foi esfregado em seus corpos magros e bem desenhados, os olhos são lunares, a boca voluntariosa foi feita para o encaixe.
A bruma que cobre a Augusta rua do centro, fica cada vez mais densa e misturada com a fumaça do escapamento e do churrasquinho de porta de zona, a névoa sube em círculos até o céu como nos turíbulos da missa de domingo da igreja da Sé.
Os Golden Boys dançam a madrugada toda nos Clubs apertados da capital, tatuam pelo corpo a necessidade de um amor embora não admitam que sofram de uma estranha forma de solidão, tal qual Virgínia, eles se afogam com freqüência em seus riachos de bi-polaridade e dependência.
Tomam comprimidos para dormir.
Para acordar.
Para lembrar.
Para esquecer, os Golden Boys tomam litros suecos de felicidade Absolut e depois deixam o fígado em uma esquina qualquer, respingando no Nike importado os restos mortais da juventude Marlboro.
Geração beat-bad-romance sintetizada pelo conto de fadas da bala de laboratório.
Mortas-vivas-belas-adormecidas dignas de George Romero.
Boa noite Cinderella feat. José Cuervo.
Vergonha alheia por Charles Bukowski.
Falsos Warholl`s profetizando uma cultura POP dichavada e bolada na seda de um baseado.
Estranha combinação desses anjos bi-sexuais e as sarjetas de Rimbaud. Estranha, mas justificável, tal qual a dependência de Anais Nin para com Henry Miller ou Roy Orbinson e os delírios de David Lynch.
O sexo para esses meninos do asfalto é tântrico, religioso, o cigarro é quase que uma regra, um acessório na ponta dos dedos amarelados. Poetas suicidas intoxicados pelo ritmo dos sonhos e inspirações de batida eletrônica com energéticos azuis.
Calam-se diante da TV.
Diante da falta do que fazer...da ausência de sombra, do excesso de Make, da falta de grana, do porre de química, ou simplesmente pelo lápis borrado escorrendo dos olhos debaixo do chuveiro.
Terminam as noites sentados nos banquinhos altos da Bella Paulista enquanto o ácido da semana passada corrói o que sobrou do cérebro.
 Assim como Ginsberg, eu também vi, os expoentes da minha geração e eles tomavam Engov antes de beber, cheiravam quilômetros de padê e viviam caindo pelas tabelas, sentados em frente à jukebox do Ecléticos, trincando os dentes e segurando uma garrafa de cerveja pela metade, esperando mais um dia amanhecer.


crônica-poética de GUILHERME JUNQUEIRA

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