quinta-feira, 20 de outubro de 2011

ODE PARA O AMOR N°1


Queria ter você mais uma vez entre meus lençóis esta noite,
Com seu suor lubrificando os mecanismos das carícias,
Sua saliva, o destilado que eu não sabia,
Quero que você viva dentro de mim,
Ser o leitor da lenda macabra dos seus olhos,
Gostaria de irromper tua carne, rasgá-la, me atirar de cara dentro de você, fazer da sua pele moradia para meu tédio,
Apenas os ventos dos teus sonhos são capazes de fecundar em meus domínios,
Antes de você aparecer eu vivia a esperando Godot,
Dançando na chuva, brincando de roleta-russa.
Você gosta da “Banda mais bonita da cidade”, eu me amarro no “Saco de ratos”
Você diz que leu Shakespeare, mas só conhece Romeu e Julieta.
Você não sabe quem é Godard e só tem paciência pra sessão da tarde.
É assim que eu te amo, burra, sonsa, bêbada, viciada em anti-depressivos e cremes anti-ruga
Sua loucura me inspira, a falta de ganância me faz querer protegê-la, possuí-la.
Que terror era aquele que me invadia nas madrugadas quentes de whisky com Redbull?
Apertava tua mão para guardar o teu cheiro fragmentado em mim,
Que ritual tátil era aquele que me remetia à tantos gostos e graças?
Deixaria o Lucky Strike se você pedisse,
Rasparia os cabelos se você assim desejasse,
Você queria bater em mim?
Eu ficava de quatro.
Pedia uma carreirinha?
Eu te dava um quilômetro.
Resto-vago-monstro re desperto em minha face,
Lado fósforo escuro dentro de mim
Hoje a noite se faz quente, minha garganta está seca e a garrafa de Red, lacrada,
Quero ter você mais uma vez,
Dentro & fora,
                         Dentro & fora,
Dentro & fora de você.
Sorvendo dos lábios a morphina do sono,
Roubando depois da foda minhas caixinhas de Rivotril,
Lendo minhas revistas de sacanagens escondidas atrás do altar dos bêbados,
E fermentando para fora do nosso templo intimo,
O câncer mais amargo, a pústula mais sangrenta,
E deixando profundas cicatrizes eternizarem todas as doenças do nosso amor.


poema de GUILHERME JUNQUEIRA

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