Fui ver no domingo e é claro, o cinema estava lotado, São
Paulo inteira parecia ter saído de casa para ver “Os vingadores”, obviamente
não era meu objetivo. Baseado no livro homônimo de Marçal Aquino “Eu receberia
as piores notícias de seus tristes lábios” é (na minha opinião) o melhor filme
em cartaz atualmente. O roteiro é
simples: a mulher entre o amor e a gratidão, não sabe se foge com o amante, ou se fica ao
lado do marido. Mas a versão de Madame Bovary dos trópicos foge dos padrões da estética, da fotografia e
montagem. Pra começar o roteiro não segue um fluxo linear e é cheio de elipses que aos poucos vão se
entrelaçando e partindo para rumos inesperados, ora engraçados, ora dramáticos
ou reflexivos.
Diferente de “Xingu” de Cao Hamburger, que na minha opinião é filme brasileiro pra gringo ver, a fita de Beto Brant e Renato Ciasca vem como um urro tropical em meio à tanto filme brasileiro meia-boca que estreia todo mês em nossas salas de cinema, um resgate do bom cinema brasileiro eu diria, um cinema que a muito tempo eu não via nas telas. Cinema nosso aliás que já há alguns anos ganha uma irritante estética de novela das oito. Não tenho nada contra as novelas e atores globais, (até porque Camila Pitanga está visceral nessa fita) mas acho que numa sala de cinema não é lugar pra esse tipo de macacada televisiva, tevê é uma coisa, cinema é outra. Mas voltando ao filme, e principalmente para ela: Camila Pitanga que está tão boa quanto a Vera Ficher fazendo a Neuza Suelli em “Navalha na carne”, tão boa quanto Fernanda Torres em “Casa de areia” e finalmente tão boa quanto Marilia Pêra em “Pixote- a lei do mais fraco”. Acho inclusive que a exposição que ela se submeteu pra que o filme fosse rodado é de uma coragem ímpar, Débora Secco (pra quem gosta da surfistinha) ficou no chinelo depois do Furacão Pitanga. O sexo aliás é Bertolucciano, em todas as posições e ângulos e ocupam papel de destaque na narrativa, por isso quem fica incomodado em ver abundantes cenas de nudez ou mesmo uma boa trepada no cinema, para essas pessoas, o filme não é recomendado, o melhor a se fazer é esperar uma comédia romântica da simpática Luana Piovani ou do hilário Bruno Mazzeo.
A trilha funciona, e mescla elementos modernos com sons da
natureza e cantos indígenas emblemáticos ao melhor estilo “Cinema Novo”. A fotografia de Lula Araujo
(premiadíssima inclusive) é um dos pontos que mais chama atenção no filme,
abusando de cores fortes, nativas e paisagens amazônicas que compõe de forma
quase poética um rico painel de
sutilezas e preenche todas as exigências do que eu considero indispensável para
um bom filme. Resta-me agora partir para o livro, que minha amiga @ fr já leu e
recomenda. Bom filme pra todos, esperemos pacientemente o “Luz nas Trevas” de
Helena Ignez, que promete ser o filme do ano...bom, vamos aguardar.
(Guilherme Junqueira)
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