“As pessoas hoje vem aqui pro meu apartamento para me
observar, ver o estrago que o tempo me causou” essa foi umas das frases mais
bonitas ditas por Sylvia Bandeira ontem no palco, enquanto encarnava a diva
alemã Marlene Dietrich.
A “montagem irretocável” (segundo a sincera Bárbara Heliodora)
está em cartaz no teatro Nair Bello aqui em São Paulo e ontem foi minha segunda
vez. Sim, gosto de repetir a dose e sempre tive tendências viciosas por
Dietrich. Ontem descobri o perigo da equação whisky+ Chanson Française, o
resultado? O musical mal havia começado
e lá estava eu, fazendo a Gal Costa e chorando embriagado a cada música
executada( pérolas do cancioneiro francês: Sur le ciel de Paris, Ne me quitte
pas, La vie en rose, etc...) A música aliás foi o que me levou a conhecer Miss
Dietrich, lembro-me que me topei com seu Ne me quitte pas aos 15, enquanto
todos na escola começavam a ouvir Spice Girls eu escutava Lili Marllene, depois disso, é claro fiquei amarradasso, Miss Dietrich virou uma musa pra mim, e sim, ela
foi Miss D. abandonou o Frouline quando pediu a cidadania norte-americana para
escapar de Hitler, Hitler aliás, que era seu fã declarado e queria-a devolvida
à pátria , para que dessa forma ela se
tornasse diva máxima do cinemão III Reich.
Grande mulher essa Dietrich, não eram só suas pernas que eram
do caralho, ela foi uma mulher muito foda, passeou por quase todas as formas de
arte do séc. passado: teatro, cabaré, disco, cinema (mudo, falado, P&B, colorido)
apresentou-se em circos e em trincheiras, foi a artista que mais arrecadou bônus
de guerra para o exército americano, bônus que serviam para comprar bombas,
bombas que caiam sobre Berlim, sua cidade amada, lugar onde ainda morava sua
mãe. “Amo os alemães, por isso combato os nazistas”
E que vida ela teve, amada e odiada pelos mais interessantes
homens (e mulheres) de sua época, Piaf, Gary Cooper, John Wilbert, Hemingway e
tantos outros. Viveu intensamente Berlim no auge de sua glória intelectual, que
nada mais era do que um salão de festas, rodeado por multidões famintas. E
assim ela passou durante um bom tempo, antes da carreira decolar com o primeiro
filme significativo “ Anjo azul” de 1930 e pela primeira vez dirigida por um
diretor ousado: Josef Von Sternberg.
Amanhã, dia 6 de maio, faz 20 anos de sua morte tranquila num
apartamento em Paris, fico feliz e me sinto menos solitário ao ver que ainda
existam pessoas que valorizam o seu trabalho e que de alguma forma contribuem
para que o Legado de Miss. Dietrich não desapareça “blowing in the wind”, foram
mais de 55 filmes, centenas de fotos e uma lição de amor e liberdade que tem o
dever de se eternizar nos anais da nossa história.
O musical
pra rapaziada que tiver afim de ver fica em cartaz até dia 27 de maio no teatro
Nair Bello do shopping Frei Caneca, Sylvia está deslumbrando.
Sexta, 21h30; sábado,
21h; domingo, 18h.
Valor R$ 60,00
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