sexta-feira, 7 de setembro de 2012

MILLER MY MAN






















Um quarto de hotel, para mim tem a implicação de voluptuosidade, furtiva, fugaz. Talvez o fato de não ter visto Henry tenha aumentado minha fome. Eu me masturbo frequentemente, com luxuria, sem remorso ou repugnância. Pela primeira vez eu sei o que é comer. Ganhei dois quilos. Fico desesperadamente faminta, e a comida que como me dá um prazer duradouro. Nunca comi dessa maneira profunda e carnal. Só tenho três desejos agora, comer, dormir, foder. Os cabarés me excitam. Quero ouvir música rouca, ver rostos, roçar-me em corpos, beber benedictine ardente. Belas mulheres e homens atraentes provocam desejos em mim. Quero dançar. Quero drogas. Quero conhecer pessoas perversas, ser intima delas. Nunca olho para rostos inocentes. Quero morder a vida e ser despedaçada por ela. Henry não me dá tudo isso. Eu despertei o seu amor. Maldito seja seu amor. Ele sabe foder como ninguém, mas eu quero mais que isso. Eu vou para o inferno, para o inferno, para o inferno. Selvagem, selvagem, selvagem.

(trecho de: Henry e June- os diários inexpurgados de Anais Nin, 1932 à 1936- pág, 119)

MONDO TRASHO


OVER GIRRRRRLS


quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Trecho de Vômito Negro Blues- sexo, narcóticos e gasolina-

(...) um filho nosso não haveria de ser padre, um filho nosso tiraria nosso passado do altar católico e jogaria nosso nome na lama, um filho nosso mataria o papa com um tiro na cabeça e eu ainda acharia bonito, um filho nosso seria cantor de blues, mas se não fosse cantor seria Dj de festas do submundo baixo-augusta, ele deixaria as meninas molhadinhas na pista com sets inteiros de trilhas do Tarantino, não, não é isso, está decidido já, nosso filho seria cantor mesmo e namoraria mulheres lindas, modelos da década de noventa e divas do cinema espanhol, até os homens se apaixonariam, um filho nosso dirigiria um Landau preto reluzente com banco de zebrinha e fumaria cigarros importados, teria que ser artista, se não soubesse cantar faria com que ele se dedicasse à literatura, sim ele seria escritor, ou até dramaturgo, jornalista não, todo jornalista sério tende a ser mau-humorado, meu filho seria tão foda que mesmo escrevendo literatura marginal ele conquistaria uma cadeira cativa na Academia, sentaria ao lado dos imortais mesmo cagando para as novas normas cultas e cagaria para Campbell, Stanislavski e cagaria também para Syd Field, Vogler, um filho nosso seria poeta livre, beberia nos bares, sairia com putas, às vezes se apaixonaria mas de uma forma geral se dedicaria mesmo em quebrar corações, não que ele realmente quisesse ferir alguma garota mas em sua natureza a monogamia não seria uma prioridade, meu filho que nem nome teve mas se tivesse seria Johnny, sempre achei Johnny um nome bacana, você fala Johnny e vem logo na cabeça a imagem de um garoto na moto, rebelde de óculos escuro e jaquetão de couro e calça jeans, é quase certo que meu Johnny cresceria e começaria a fumar, eu sei que o cigarro faz mal e coisa e tal mas eu deixaria meu Johnny fumar um pouco, posso até parecer meio louca mas Johnny ficaria lindo fumando um cigarro importado sobre a moto na frente dos cinemas alternativos, nem James Dean abraçado com Natalie Wood, nem Clint Eastwood no auge de seus faroestes macarrônicos, nenhum deles teria tanto estilo quanto meu filhinho, depois do jantar, antes mesmo dele pegar a moto e sair de casa, eu como uma boa mãe que seria, soltaria os pratos na pia e sairia correndo e gritando seu nome pelo corredor, Hey, Johnny não está esquecendo seu maço de cigarros baby? E dançaríamos nos finais de semana, sim, dançaríamos uma seleção inteira de Elvis Presley, uma seleção impecável que começaria com “Heartbreak Hotel” e terminaria com “Love me tender”, enquanto isso eu o veria sorrir de baixo dos óculos escuros e ele diria, eu te amo, para nós todos os dias seriam dia das mães (...)

trecho de Vômito negro Blues-sexo, narcóticos e gasolina
(meu novo projeto, ainda sem previsão pra lançamento mas acho que vai ficar pro ano que vem)

sábado, 1 de setembro de 2012

MARY JUANA


Sou uma Over Girrrrl dadeira
índole de loba libidinosa
 sexy-safa-sereia
não sou a Gullivera de Milo Manara
 nem qualquer diva de rock ou Velásquez
sou a que nasce do chopp com espuma
Oxúm se arruma, Iemanjá se perfuma
enquanto eu, Mary Juana,  bebo pra caralho
bebo e fumo como uma pirata do Tietê
não sô rainha Nagô!
sou chuva ácida, rio sem curva
baralagado, whisky gelado
poço, fossa, fosso
baseado fino e grosso
melancia sem caroço
sou todas putinha do bar
cheia de vida, entorpecida
dando o rabo pra poeta suicida
A febre sobe, exala
selvagem Gaia-Réa cavala
um sudário cobre meu céu cor de uva
sobre meu clitóris um broto que baba
um gozozo guarda-chuva
sou o princípio, o meio, o fim
Mary Juana
 a resposta
vinda de riso adubado com bosta
planta gorda trepada na encosta
as ninfas em mim se enrosca
elas gosta
Essa noite verde vi teus olhos ofuscantes
sonhei que fui penetrada por tua seiva quente, escaldante
toquei tua guita, teu baixo-ventre e teu tambor
arrebate  ruivo de amor
abri minhas pernas VA-GA-RO-SA-MENTE
revelando assim meus ratos, meus ramos
beat-poeta, me bate, lê meus planos
pois quem não arde não teima
quem não ferve não ama
não queima, não rola na kama
sutra, me xinga baby, me insulta
me deixa acabar com as carreiras
esquecer as boas maneiras
olha o espelho quebrado no chão
a pólvora no cano do canhão
Tesão
Anal, oral, vaginal
prazer sem igual, serpentina de rubi e carnaval
Tiro, explosão
você caído na cozinha, morto ou não
Sereia cintilante chama
arrumando teu cabelo com os dedos
e cavando sua kama
e dobrando seu terno
Ficar do meu lado baby
é estar preparado pro sono eterno
Capa da revista Penthouse setembro/89 com ilustra do mestre Manara