Guilherme Junqueira é escritor, artista-plástico e experimentador audio-visual, todas as obras apresentadas no site são de sua autoria, seja bem vindo...
quarta-feira, 5 de setembro de 2012
Trecho de Vômito Negro Blues- sexo, narcóticos e gasolina-
(...) um
filho nosso não haveria de ser padre, um filho nosso tiraria nosso passado do
altar católico e jogaria nosso nome na lama, um filho nosso mataria o papa com
um tiro na cabeça e eu ainda acharia bonito, um filho nosso seria cantor de
blues, mas se não fosse cantor seria Dj de festas do submundo baixo-augusta,
ele deixaria as meninas molhadinhas na pista com sets inteiros de trilhas do
Tarantino, não, não é isso, está decidido já, nosso filho seria cantor mesmo e
namoraria mulheres lindas, modelos da década de noventa e divas do cinema
espanhol, até os homens se apaixonariam, um filho nosso dirigiria um Landau
preto reluzente com banco de zebrinha e fumaria cigarros importados, teria que
ser artista, se não soubesse cantar faria com que ele se dedicasse à
literatura, sim ele seria escritor, ou até dramaturgo, jornalista não, todo jornalista
sério tende a ser mau-humorado, meu filho seria tão foda que mesmo escrevendo
literatura marginal ele conquistaria uma cadeira cativa na Academia, sentaria
ao lado dos imortais mesmo cagando para as novas normas cultas e cagaria para
Campbell, Stanislavski e cagaria também para Syd Field, Vogler, um filho nosso
seria poeta livre, beberia nos bares, sairia com putas, às vezes se apaixonaria
mas de uma forma geral se dedicaria mesmo em quebrar corações, não que ele realmente
quisesse ferir alguma garota mas em sua natureza a monogamia não seria uma
prioridade, meu filho que nem nome teve mas se tivesse seria Johnny, sempre
achei Johnny um nome bacana, você fala Johnny e vem logo na cabeça a imagem de
um garoto na moto, rebelde de óculos escuro e jaquetão de couro e calça jeans, é quase certo que meu Johnny cresceria e começaria a fumar,
eu sei que o cigarro faz mal e coisa e tal mas eu deixaria meu Johnny fumar um
pouco, posso até parecer meio louca mas Johnny ficaria lindo fumando um cigarro
importado sobre a moto na frente dos cinemas alternativos, nem James Dean
abraçado com Natalie Wood, nem Clint Eastwood no auge de seus faroestes
macarrônicos, nenhum deles teria tanto estilo quanto meu filhinho, depois do
jantar, antes mesmo dele pegar a moto e sair de casa, eu como uma boa mãe que
seria, soltaria os pratos na pia e sairia correndo e gritando seu nome pelo
corredor, Hey, Johnny não está esquecendo seu maço de cigarros baby? E
dançaríamos nos finais de semana, sim, dançaríamos uma seleção inteira de Elvis
Presley, uma seleção impecável que começaria com “Heartbreak Hotel” e
terminaria com “Love me tender”, enquanto isso eu o veria sorrir de baixo dos
óculos escuros e ele diria, eu te amo, para nós todos os dias seriam dia das mães (...) trecho de Vômito negro Blues-sexo, narcóticos e gasolina
(meu novo projeto, ainda sem previsão pra lançamento mas acho que vai ficar pro ano que vem)
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