Um quarto de hotel, para mim tem a implicação de
voluptuosidade, furtiva, fugaz. Talvez o fato de não ter visto Henry tenha
aumentado minha fome. Eu me masturbo frequentemente, com luxuria, sem remorso
ou repugnância. Pela primeira vez eu sei o que é comer. Ganhei dois quilos.
Fico desesperadamente faminta, e a comida que como me dá um prazer duradouro.
Nunca comi dessa maneira profunda e carnal. Só tenho três desejos agora, comer,
dormir, foder. Os cabarés me excitam. Quero ouvir música rouca, ver rostos,
roçar-me em corpos, beber benedictine ardente. Belas mulheres e homens
atraentes provocam desejos em mim. Quero dançar. Quero drogas. Quero conhecer
pessoas perversas, ser intima delas. Nunca olho para rostos inocentes. Quero
morder a vida e ser despedaçada por ela. Henry não me dá tudo isso. Eu
despertei o seu amor. Maldito seja seu amor. Ele sabe foder como ninguém, mas
eu quero mais que isso. Eu vou para o inferno, para o inferno, para o inferno.
Selvagem, selvagem, selvagem.
(trecho de: Henry e June- os diários inexpurgados de Anais Nin, 1932 à 1936- pág, 119)
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