I
Ensaio sobre a porra do amor
Aprendi que nós escritores só nos apaixonamos por sentenças,
linhas, parágrafos, metáforas e frases de efeito.
Não que falte em nós a capacidade de amar, pelo contrário,
transbordamos o amor, por isso ele esguicha tanto nas folhas vazias. E quando o
texto é pronto vivemos à carência de que massageiem nosso ego, essa é a forma
mais distorcida de amor que conhecemos.
Aprendi o des-amor afinal, e às duras penas me fecho da
paixão, para que ela não me fume, não me beba e não me destrua.
II
Fogo Paulista
Como um ladrão de casaca você abandonou minha cama
impregnando os lençóis de cheiro de Fogo paulista e romã
sei que foi só uma trepada, sei que você não me ama
Levou tudo de mim, pele, unha, fígado e Lexotan
Tomei naquela manhã meu porre mais amargo
a luz do sol tentou me incinerar
virei um inconsequente peixe pargo
achei que a vida fosse teatro e afoguei-me no mar.
III
Dramalhão sentimental
Meu amor azedou
virou carne decomposta
um copo de leite que talhou
um belo monte de
bosta
As varejeiras beijam meu pescoço
virei um fantasma
pele, osso
e miasma
A bílis, amarga crisálida
borboleta árida no peito
não sei se foi você que apodreceu
ou se fui eu
Que não soube amar direito
(Guilherme Junqueira)
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