segunda-feira, 23 de abril de 2012

TRÊS TESTÍCULOS


I
Ensaio sobre a porra do amor

Aprendi que nós escritores só nos apaixonamos por sentenças, linhas, parágrafos, metáforas e frases de efeito.
Não que falte em nós a capacidade de amar, pelo contrário, transbordamos o amor, por isso ele esguicha tanto nas folhas vazias. E quando o texto é pronto vivemos à carência de que massageiem nosso ego, essa é a forma mais distorcida de amor que conhecemos.
Aprendi o des-amor afinal, e às duras penas me fecho da paixão, para que ela não me fume, não me beba e não me destrua.

II
Fogo Paulista

Como um ladrão de casaca você abandonou minha cama
impregnando os lençóis de cheiro de Fogo paulista e romã
sei que foi só uma trepada, sei que você não me ama
Levou tudo de mim, pele, unha, fígado e Lexotan

Tomei naquela manhã meu porre mais amargo
a luz do sol tentou me incinerar
virei um inconsequente peixe pargo
achei que a vida fosse teatro e afoguei-me no mar.

III

Dramalhão sentimental

Meu amor azedou
virou carne decomposta
um copo de leite que talhou
 um belo monte de bosta

As varejeiras beijam meu pescoço
virei um fantasma
pele, osso
e miasma

A bílis, amarga crisálida
borboleta árida no peito
não sei se foi você que apodreceu
ou se fui eu
Que não soube amar direito

(Guilherme Junqueira)




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