sexta-feira, 23 de novembro de 2012

LUI MALDITO


Não comeu nada o dia todo, apenas algumas migalhas de pão amanhecido e um pacotinho de bolacha passatempo, não que não estivesse com fome, estava faminto, a fome das feras nos coliseus romanos, mas é que a pilha de panelas sujas na pia o deprime profundamente e o faz querer voltar para a cama e dormir por cem anos, um pecado, a comida apodrece dentro dos pratos na sua cozinha. Se pude
sse comprar uma passagem pra qualquer lugar agora mesmo, iria pruma trip bem riponga, guardaria a jaqueta de couro bem arrumadinha no cabide e passaria uma temporada em Machu Pichu, Santiago de Compostela ou algo assim, São Tomé das letras pra ele já tava de bom tamanho, qualquer coisa nesse naipe contanto que não seja Aparecida do Norte, sempre achou Aparecida um destino meio cafona, ou então uma praia quente, sim, uma praia seria um destino perfeito, um mar imenso e azul-anil, as ondas prontas para serem rasgadas pelo seu corpão desajeitado, um cheiro de sal e escama grudando na pele, areia no calção, barulho, movimento, uma ganja bem fumada debaixo das árvores beira-mar, até prum acampamento ele topava, São Paulo às vezes pode ser uma dama blasé, a solidão das madrugadas opera milagres na cuca dos poetas dados à boêmia. A verdade é que as vezes Lui Maldito acha que está condenado ao silêncio das situações, as Moiras tecem seus fios misteriosos e ele se adapta aos acontecimentos, se agarra com força à qualquer nó de vida para não afundar no oceano revolto que sempre trouxe dentro si, não chora mais, nem de raiva, a cocaína secou suas lágrimas, e ele engrossa agora as fileiras do walking-dead baixo-augusta, quando leu seu horóscopo hoje, as previsões garantiam que seria um dia inesquecível, os astros não erram jamais, e o dia de certa forma foi assim mesmo, só que inesquecivelmente silencioso.






CADERNINHO

FIZ AS PAZES COM O SOL, como San Pãn é linda de luz acesa, acho que nunca tinha visto. ANGELA RORO se manifestou corpo e alma no Anhangabaú da Feliz- cidade, cantou os mantras obrigatórios do seu vasto cancioneiro mágico e me abençoou no final do show com um abraço, hoje acordei cedo e simpático, até sorri para as pessoas enquanto subia uma Augusta encharcada de sol ouvindo Just Blues no mp4. As 
bancas de jornal fecham nas tardes de domingo e eu ainda não comprei o novo número do Tex, me restam as bancas de shopping...Fico sem saber das novidades macarrônicas do Velho- Oeste, só tinha turma da Mônica, desolado compro uma Bud e desço as escadas rolantes com um anjo negro cantando pra mim, só nós dois naquele espaço, só podia ser pra mim, acho até que era Jazz, um negro bonito, já de idade, bem desses de New Orleans, um tipão de chapéu e tudo. Na Paulista um coro de anjos cafonas cantando noite feliz, um desrespeito sem tamanho com Apolo que vibrava seus raios de luz para degelar um pouco esse iceberg de ódio e intolerância que ancorou sem pedir licença nos portos do nosso dia-dia, e o problema não é só no nosso estado, é uma crise mundial que se instalou de vez nesse globinho de isopor azul carinhosamente chamado de planeta terra, o sol brilhava KUNDALÍNICO e eu me sentei na praça, sem problemas, lembrando que na noite passada, no meio da guita oriental do Club Noir, o Marcelo Watanabe mandou no meio da música um puta riff de noite feliz, obviamente, eu pensei comigo mesmo, existem também os anjos tocadores de guita, preciso comprar mais filtro solar, o meu acabou depois de quatro anos de uso, é isso aí mesmo, a vida é bela ANGELA, só nos resta viver.






SÓ RESTARAM PARA FLORBELA SEUS SONETOS DE AMOR


A vida sorri pra mim num mixto-quente de rock`n roll & prelúdio de Wagner, a morte baixou o pano sobre o ato final, fim, por favor mocinha traga mais uma dose de GIM! Callas se calou, desafinada como um pássaro cansado decidiu parar de cantar no meu peito, virou uma esfinge de signos, oca e sombria, fim baby, fim, basta, essa noite eu digo adeus aos fa
dos do destino, vou riscar todos os discos da Amália, a tragédia acabou, decidi ser um amante da vida, um Rodolfo Valentino paraguaio, um latin-lover-locão, vou inventar minhas próprias histórias, minha Tosca salvou Caravadossi das balas, saltou do muro e abriu um paraquedas iluminado e macio sobre uma Roma incendiada, minha Ofélia mergulhou no Avon usando um snorkel e montou uma banda de free Jazz com as sereias do rio. Tudo é silêncio e fogo dentro do peito e no meio dos escombros do bombardeio uma rosa floresce, Sylvia abre o forno pra tirar a lasanha congelada, Dalida ainda está viva e passa os últimos anos de vida na Jamaica fumando até a última ponta e dançando reggae com uma Winehouse re-habilitada. SILÊNCIO, gaitas gritam e choram de alegria, é a noite, aaaaaah a noite que se aproxima e o fantasma que rondou minha cama tal qual um gato carente se desfaz em minhas mãos, só restaram de Florbela seus sonetos de amor






OUTROS SONHADORES


Noite Artaud-Diana
a lua tava em leão
a noite do SIM

a noite do NÃO
Os ACORDES de Brecht
batendo uma loucurinha esquecida
meus índios enterrados querendo se manifestar
dançar no terreiro eletrônico, como um Deus Xamã
atabaques, chocalhos e ACORDES de Blues
SEDE/SADE
Anais Nin
Andy Warholl
e OUTRO
Água desabando no viaduto
os pensaventos diluídos pelo fog
e pelo véu fino dos cigarros acesos ao acaso
O bar tava quente
a breja desceu como uma cascata dourada na garganta
os reencontros são cósmicos
a noite em que o universo conspirou
contra e a favor
Salvador Dalí materializado na calçada
fazendo baby liss no bigodinho
O olho furacão dentro da Dorothy underground
a bruxa do Oeste voltou à assombrar as criancinhas
e eu fiquei com o nome sujo na praça
Chá de hortelã?
Com açúcar, por favor.
Banho, vela, vômito e tarot
um abraço do tamanho do mundo
Eu voltando pra casa de manhãzinha
e o Cazuza cantando no mp3
Tudo é amor mesmo se for por carma






SANTA RITALINA


Passei a noite ouvindo a SANTA
SANTA RITALINA
e acreditando que tudo vai mudar
que a dor vai passar

a serpente vai abraçar as hienas do ZOO
e depois de uma cacofonia de ossos triturados
vai niná-las dentro do berço da boca
quero ver o sangue escorrendo no moedor de carne
deslizando nas paredes do frigorífico azul
os hipócritas serão içados aos céus
pelo rabo e pela boca
tudo bem à la Bram Stocker mesmo
gosto da carne mal-passada mugindo no plat du jour
E amanhã quem sabe
depois da carnificina
da ganja merecida
do sol, que a muito não me beija a cara
e de uma maravilhosa trepada
eu encontre o que tanto procuro
O que é?
Nem eu sei bem
Um alguém? Eu quero alguém?
Bobagem Cazuza-grilo-falante!
Eu não amo ninguém
ninguém além de mim mesmo
meus textos, minhas folhas em branco
minhas penas entupidas de nanquim
o giz, o GIM
Sim.
o JAZZ
shove it up you ASS
e devore minha coleção do Bertolucci
o teorema do Pasolini, a persona do Bergman
a trilogia do Poderoso Chefão
Não.
Acho que sou um solitário afinal
cheio de ritos e ratos
gostos e graças
o mundo me chuta, me rotula,
me dá as costas, escarra na minha cara
mas eu não sou pego de assalto
tô em paz meu bem, tô zen
Saaaaai zica! Nem vem!
Vou tomar um banho de manjericão, me Saravár
Não deixo vida me nocautear
com suas luvas Pretorian vermelhas
me passa a toalha baby
quando bato no saco de areia costumo suar
um bocado






RUDE BOY


O deserto dos seus olhos em fogo
seu corpo estourando em explosões de raiva
explodindo as fagulhas
queimando 

a faixa de Gaza do teu colchão
se consumindo de preocupações e contas pra pagar
as toneladas de comprimidos de Oberon
as capsulas titânicas que põem pra dormir os cavalos
O vaso do banheiro que nunca se cansa do whisky importado
Que direito tenho eu de te impedir de viver?
Você na pista dançando System of a down
eu tava com a camiseta do Black Sabbath
enlouquecendo com um bombardeio de Red label
e você lá, dançando no meio da fumaça neón
sem camisa, o espinheiro tatuado no teu peito
te abraçando como uma cerca de arame
o cara mais lindo que conheço
o louco que resolveu me amar
abaixa a arma baby
vou esconder as tuas balas douradas
evitando assim a tragédia de sangue na cozinha
ou prefere,na manhã seguinte
lamentar o azulejo estourado sobre os joelhos?
A morte sempre foi SUA companhia
mas eu ainda tenho uma vida toda pela frente
e enquanto mastigo seus picos de felicidade histérica
e flutuo no oceano de drogas que esconde seus monstros
e seu street fighter noturno
Você acorda todas as manhãs
e em silêncio
diz que já se cansou de mim






DUAS NOTAS DO MEU SUBSOLO


I
Ontem a noite foi foda
fodona, fodástica

Acho que a morte
a velha senhora drástica
que ficava sorrindo pra mim
me seduzindo com sua maçã apodrecida
enchendo minha cachola com idéinha suicida
finalmente estava sem balas no tambor
E foi porisso que na hora do BANG
...
Ela não atirou
O precipício em meus pés já não existe mais
dei uma boa esnobada na dor
e os exús- titãns foram trancafiados
amordaçados
debaixo do mar dos afogados
Por quanto tempo? Ainda não sei
só as sereias sabem
Não faz diferença, que leve o tempo que for necessário

II
Ontem tava tudo foda
Iansã tava girando em Wallstreet
Barravento-big-aplle
agitando as saias da Liberdade lésbica americana
enquanto isso
aqui em San Pãn a lua tava cheia
em Touro
A rua tava quente,
Oxúm coberta de Ouro
e minha mão foi lida na porta do inferno de Dante
por Beatriz
Uma vida linda, ela disse
me poupando de uma morte qualquer na primeira esquina
Salvador Dalí esteve aqui
comigo
decidiu finalmente ser meu amigo
e com ele todo um cordão surrealista
desfilando pela praça
um carnaval bizarro e bem-dito
Maya Deren, Jean Cocteau
o mais normal do rolê atende pela alcunha de Artaud
A vida resolveu me chocar

E todos levantaram da mesa antes de virar abóbora
deixando recibos e notas de vinte
só os amigos bebem até as cinco da matina
Qual é a próxima parada? O boteco da esquina?
Cara,as noites quentes são curtas
mais curtas que as minisaias da Lara
Os caras no carro talkin` `bout my generation
just because we g-g get around
Paz
o movimento da roda, o ronco do motor
a liberdade que só o vento na cara traz
Outro bar
Colocam na Junkebox um do Hendrix pra girar
Castles made of sand
e eu fico na calçada com um copo de plástico na mão
de olhos fechados, desejando um happy end
Os bares estão fechando cada vez mais cedo
nas segundas, nos restam apenas as sinucas de quinta
as meninas dançam sobre os escombros dos puteiros
a noite é quente e apesar da tristesa da cidade
exaltamos a vida nas madrugadas
somos todos sobreviventes do nosso próprio veneno
O diabo loiro que toca guita me oferece cachaça com mel
eu aceito
vida Brum
acendo um
e desço a Augusta feliz
compondo uma balada pra Geyse Arruda
e abanando o rabo como um cachorro bobo
A vida é boa Domingos de Oliveira
Muito boa