segunda-feira, 13 de agosto de 2012

UM TIRO NA BOCA


Aí o Marião me fala, vai chorar hein Guilhermão, olha não chorei, acho que sou um alien mesmo, coração gelado do caralho mas faltou pouco cara, bem pouco mesmo, vi garotas atravessando o teatro em prantos, olha só o Mário faz o público desabar, Régis o faz-tudo do Cemitério comentou, não podia deixar passar essa.
Homens santos e desertores, segue a tradição das peças que a antecedem na mostra “Artes do subterrâneo” que comemora os 30 anos do grupo “Cemitério de automóveis”,  tecnicamente é impecável, precisa, a direção e a luz são da Fernanda D`umbra que como o próprio nome já diz, permeia na penumbra e na baixa resistência, já conhecia o texto, motivo talvez de não me perder em lágrimas, já sabia o que esperar e mesmo assim permaneci surpreso, suspenso, estático, um soco no estômago, não, soco no estômago soa muito lugar comum, um tiro na boca é mais a cara do espetáculo. Gabriel Pinheiro e Mário Bortolotto estão em atuações vicerais, alcançam alí, em cena níveis extremos, o texto ganha uma realidade assustadora e te engole na cadeira, é um texto para escritores, haviam me dito durante uma cervejada na Mercearia São Pedro, gostaria de poder dizer:  a peça é sobre isso ou aquilo, mas a peça é sobre tanta coisa, solidão, juventude, medo, conflito de gerações, conflitos, conflitos conflitos e uma luz bem fraquinha no final do túnel... engraçado ver essa peça agora que terminei de ler “Animais em extinção” do Marcelo Mirisola, ela é citada num capítulo, a seguinte frase: “ Vai fazer, o que tem de ser feito, garoto” está na página 46 do livro que entre muitos acontecimentos narra algumas curiosidades da  temporada de 2003 espetáculo, apresentado num teatrinho alugado na Conselheiro Ramalho. Engraçado ver essa peça ontem também, em pleno dia dos pais, impossível não se emocionar, mesmo eu, coração gelado que sou, não chorei mas fiquei grudado na cadeira, paralisado quando a luz se acendeu para a platéia e a peça terminou sem aplausos.

SERVIÇO: Homens santos e desertores

Texto: Mário Mario Bortolotto 
Direção e iluminação: Fernanda D`umbra
Com Mário Botolotto e Gabriel pinheiro 
Quando? De quarta à sábado às 21:00 e domingo às 20:00 (sendo que dias 15 e 1 não haverão apresentações)
Onde? Estação Caneca, r. Frei Caneca 384, metro consolação
Quanto? PQP (pague quando puder) só retirar 1h antes

Nenhum comentário:

Postar um comentário